O que esperar do setor elétrico em 2016?

É chegado o fim de 2015, momento de analisarmos o que deu certo e o que deu errado no ano que passou e traçarmos metas para o próximo período (aliás, podemos aproveitar que 2016 terá 1 dia a mais em fevereiro para incluirmos mais metas na pauta).

2015 começou com um blackout que deixou no escuro boa parte do país: as altas temperaturas nos lembraram que o horário de ponta migrou da noite para o meio da tarde, e que nosso sistema não consegue mais atender à carga.

Os reservatórios no limite do colapso fizeram as térmicas rodarem a pleno vapor, e não se engane: não foi culpa de São Pedro, como o governo afirma (2014 foi apenas o 10º pior ano em termos de chuva, e de 2009 até 2013 tivemos anos absolutamente dentro da normalidade). A dura verdade é que os reservatórios já não são suficientes para garantir nossa segurança energética. É como ter um celular velho: pode passar a noite carregando, que a bateria não dura o dia todo. Hoje, de acordo com estudos da Firjan e do Ilumina, nossa “bateria” dos reservatórios não aguentam mais do que 5 meses. Há 14 anos aguentavam 6,2 meses, e em 2021 não aguentarão mais do que 3,3. Ou seja, não só não temos baterias suficientes, como elas também duram pouco. Por que isso acontece? Porque não construímos mais usinas com reservatório. As três grandes hidrelétricas atualmente em conclusão (Santo Antônio, Jirau e Belo Monte) foram construídas sem reservatório, em um claro descaso com a segurança energética nacional.

Em um ano onde não sabemos nem quem será o presidente da república, é praticamente impossível dizer o que pode acontecer – é mais fácil dizer o que gostaríamos que acontecesse.

Gostaríamos que o governo, pelo bem do grupo Eletrobras (e, por consequencia, do país), privatizasse não só suas distribuidoras, mas também todas as demais subsidiárias (evitando casos como a Chesf, subsidiária do grupo que está com 80% de suas linhas de transmissão atrasadas).

Gostaríamos que a ANEEL criasse uma agenda de 5 anos, com os principais temas que precisarão ser discutidos no período, dando prazo suficiente para os agentes participarem (evitando casos como o da MP 579, que já causou prejuízos superiores a R$150 bilhões ao setor elétrico).

Gostaríamos que o congresso nacional discutisse com muito cuidado – de forma técnica, e não populista – a lei da portabilidade da conta de luz, que apesar de ser uma bandeira extremamente válida, se feita da maneira errada pode simplesmente falir todas as distribuidoras e geradoras com contratos no mercado regulado, de longo prazo.

Gostaríamos que novos reservatórios fossem construídos, sabendo-se que se todas as usinas possíveis da região amazônica fossem construídas de uma só vez, a área desmatada seria o equivalente a apenas 1 ano de desmatamento ilegal, sendo que quando feito por uma usina este impacto recebe todos os fatores mitigadores necessários, com compensações à altura.

Gostaríamos de discussões não-demagógicas sobre o programa nuclear, já que o Brasil tem a 5ª maior reserva de Urânio do planeta. Sim, existem dois grandes acidentes no mundo que sempre são referenciados pelos críticos desta fonte (Fukushima e Chernobyl), mas o que fazemos quando um avião cai? Paramos de voar, ou aprimoramos o processo para evitarmos novas falhas?

Gostaríamos que a Petrobras perdesse o monopólio que ela de fato possui sobre o setor de gás, estimulando esta fonte energética no país, sem dependermos da importação da Bolívia (que já sinaliza com mais um reajuste de 80% no preço do insumo).

Gostaríamos que fossem estudados desde já os impactos na demanda que será causada pelos veículos elétricos, com potencial para consumir o equivalente a todas as residências do país juntas (o tempo de construção de uma usina é superior ao tempo que o governo leva para criar incentivos a este tipo de veículo).

Enfim, há muito para ser feito, mas muito pouco foi discutido. Precisamos de discussões mais técnicas e menos políticas; medidas mais práticas, e menos demagógicas. Não podemos deixar que o interesse de uma minoria comprometa o interesse da maioria. Esta é a democracia: o interesse coletivo se sobrepõe ao interesse individual. Vamos torcer para que o dia a mais que teremos em 2016 seja suficiente para fazermos tudo aquilo que não foi feito em 2015. Que São Pedro nos proteja.

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